Putin propõe encontro com Zelensky em Moscou, diz agência
19/08/2025
(Foto: Reprodução) Reunião na Casa Branca termina com Trump confirmando ligação pra Putin propondo encontro com Zelensky
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs a capital de seu país, Moscou, para sediar um encontro com o presidente ucraniano, Voldymyr Zelensky, segundo disseram nesta terça-feira (19) fontes das negociações à agência de notícias francesa AFP.
De acordo com as fontes, Putin fez a proposta durante a ligação telefônica com Donald Trump na segunda-feira (18), após Trump se reunir com Zelensky e líderes europeus na Casa Branca.
"Putin mencionou Moscou", afirmou uma fonte.
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Ainda de acordo com a agência, Kiev negou a proposta. O presidente ucraniano, que estava na Casa Branca com líderes europeus no momento da ligação, "respondeu que não".
Após a reunião na Casa Branca, Donald Trump disse estar costurando uma reunião trilateral entre ele, Putin e Zelensky, mas não deu detalhes sobre o local e a data desse encontro. Nesta terça, a Rússia deu a primeira sinalização de que pode aceitar o encontro (leia mais abaixo).
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Partilha de territórios
Também nesta terça, Trump deu detalhes sobre a partilha dos territórios ucranianos atualmente ocupados pela Rússia.
Em entrevista à rede de TV norte-americana Fox News, ele disse que a Ucrânia ficará "com muito território", em referência às regiões atualmente ocupadas por tropas russas (veja mapa abaixo), mas não especificou quais.
O presidente ucraniano tem dito que não aceitará negociar nenhum de seus territórios com Moscou.
Trump também afirmou na entrevista não ter certeza de que o presidente russo, Vladimir Putin, vai querer fechar um acordo de paz e que saberá disso "nas próximas duas semanas".
"O Putin está cansado dessa guerra. Mas vamos descobrir mais sobre o presidente Putin nas próximas semanas... É possível que ele não queira fechar um acordo", disse Trump, acrescentando que a Rússia enfrentaria uma "situação difícil" se não chegar a um acordo.
O presidente dos EUA classificou ainda sua relação com Putin como "calorosa".
Sobre as garantias de que a Ucrânia não volte a ser atacada, pedidas pelos líderes europeus na reunião de segunda-feira (18) na Casa Branca, o líder norte-americano afirmou que "haverá algum tipo de segurança, mas não [nos moldes] da Otan".
A presidente da Comissão Europeia (o braço executivo da União Europeia), Ursula von der Leyen, que também participou da reunião com Trump e Zelensky, sugeriu que as garantias de segurança — ou seja, de que a Ucrânia não volte a ser invadida após o fim do conflito — sejam similares ao Artigo 5 da Otan, que prevê que aliados possam intervir caso um após membro seja atacado por um terceiro país.
Entenda a ocupação russa na Ucrânia
Arte/g1
Rússia sinaliza para encontro com Zelensky
Presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversam diante de um mapa da Ucrânia com regiões ocupadas pela Rússia marcadas por cor diferente, em 18 de agosto de 2025.
Divulgação/ Casa Branca
Após a reunião, a Rússia deu nesta terça a primeira sinalização de que pode aceitar um encontro entre Zelensky e Vladimir Putin. O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, disse que "a Rússia não rejeita nenhum formato para discutir o processo de paz na Ucrânia".
Após o encontro na Casa Branca, Trump disse estar preparando uma reunião trilateral entre ele, Zelensky e o presidente russo, em data e local ainda não acertados.
Lavrov sugeriu que Moscou está disposta a abrir mão de parte dos territórios que ocupa na Ucrânia — um dos principais impasses das negociações. O chanceler afirmou ainda que "a Rússia nunca quis só territórios".
Ele pediu o acordo também traga garantias de segurança para a Rússia. Também nesta terça, Zelensky disse que seu governo já começou a desenhar os termos para as garantias de segurança para a Ucrânia que estarão na proposta de paz.
"Haverá garantias de segurança", afirmou.
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Trump ligou para Putin na segunda. O principal assessor do Kremlin, Yuri Ushakov, chamou a ligação de Trump de "franca e construtiva", mas tratou o eventual encontro entre Putin e Zelensky como uma "ideia" e falou de forma vaga em "explorar a possibilidade de elevar o nível dos representantes ucranianos e russos nas negociações diretas" entre os dois países.
Enquanto Trump mostrou otimismo para o fim da guerra da Ucrânia, Zelensky e os demais europeus pediram robustas garantias de que a Rússia não volte futuramente a invadir a Ucrânia. No final, todos disseram que as reuniões foram boas.
"Durante o encontro, discutimos as garantias de segurança para a Ucrânia, que seriam fornecidas por vários países europeus, em coordenação com os Estados Unidos. Todos estão muito felizes com a possibilidade de PAZ para Rússia/Ucrânia", afirmou Trump em sua rede social Truth Social.
Zelensky afirmou ter tido "uma longa discussão sobre territórios" com Trump e que detalhes das garantias de segurança oferecidas pelos EUA à Ucrânia serão acordados nos próximos 10 dias. Segundo o líder ucraniano, o encontro desta segunda-feira foi "o melhor até agora". Zelensky reiterou estar pronto para se encontrar com Putin e afirmou que esse encontro não deve vir com exigências prévias.
O encontro na Casa Branca se deu três dias depois de Trump e Putin se reunirem na Alasca. "A segurança da Ucrânia é a segurança da Europa", afirmou o premiê britânico, Keir Starmer.
Presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump (à direita), e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversam com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca em 18 de agosto de 2025.'
REUTERS/Kevin Lamarque
Estiveram presentes na Casa Branca os seguintes líderes europeus: Emmanuel Macron (presidente da França), Keir Starmer (premiê do Reino Unido), Friedrich Merz (chanceler da Alemanha), Ursula von der Leyen (chefe da Comissão Europeia), Mark Rutte (chefe da Otan), Giorgia Meloni (premiê da Itália) e Alexander Stubb (presidente da Finlândia).
Trump também disse que "foi um dia de muito sucesso" e disse achar que Putin quer a paz. No entanto, Macron e Stubb disseram que o líder russo não é confiável e não busca a paz, e outros europeus também demonstraram ceticismo com promessas vindas do Kremlin.
O presidente americano disse querer a reunião trilateral o "quanto antes", e a esperança é que ela acontecesse até o final de agosto, afirmou uma fonte da Casa Branca ao site americano "Axios". O chanceler Merz disse que o encontro entre Putin e Zelensky poderia ocorrer em até duas semanas.
Macron e Merz fizeram apelos por um cessar-fogo imediato no conflito. O presidente francês disse a Trump que as negociações pelo fim da guerra na Ucrânia afetam todo o continente europeu, por isso pediu que líderes europeus sejam incluídos na cúpula tripartite que o líder americano planeja com Putin e Zelensky.
Meloni, por sua vez, disse que uma das perguntas mais importantes no momento é "como ter certeza de que isso [invasão russa] não acontecerá novamente, o que é a condição prévia de qualquer tipo de paz".
O encontro desta segunda entre Trump e Zelensky teve tom menos tenso do que o anterior, quando em 28 de fevereiro eles bateram boca e o ucraniano foi hostilizado pelos anfitriões. Todos adotaram um tom mais consensual, apesar de ainda haver diferenças a serem tratadas. Zelensky foi elogiado por um repórter pela roupa que estava utilizando, um paletó, quando estava com Trump no Salão Oval.
Presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tiram foto junto com outros líderes europeus na Casa Branca em 18 de agosto de 2025.
REUTERS/Alexander Drago
O que está em jogo
Um rascunho da proposta de Putin para encerrar a guerra prevê a retirada parcial de tropas russas do norte da Ucrânia, mas exige contrapartidas consideradas inaceitáveis por Kiev: o reconhecimento da anexação da Crimeia, a manutenção do controle do Kremlin sobre grande parte do Donbas, a promessa de que a Ucrânia não se juntará à Otan e o alívio das sanções internacionais contra Moscou.
Diplomatas ressaltam que o esboço não é um acordo formal, mas indica a tentativa russa de consolidar ganhos militares e políticos obtidos desde 2022. Para Zelensky, qualquer concessão desse tipo significaria abrir mão da soberania ucraniana.
Zelensky admitiu no domingo, em Bruxelas, que pode negociar as terras já controladas por tropas russas.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, também reconheceu que Kiev, na prática, terá provavelmente de aceitar a perda de territórios, ainda que isso não seja reconhecido formalmente no âmbito jurídico internacional.
O presidente russo, no entanto, continua retratando Zelensky como ilegítimo. Para diplomatas europeus, há dúvidas se Putin realmente topará dividir a mesa com o ucraniano ou se continuará a ganhar tempo para consolidar seus avanços militares.